quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

TEATRO E ENSINO DE HISTÓRIA

Montar peças teatrais é um ótimo recurso para trabalhar conteúdos históricos. Uma peça ajuda as crianças a construírem uma cronologia básica de um determinado conteúdo.

A turma pode ser dividida em equipes: roteiristas, figurinistas, atores, cenário e sonoplastia.

Os roteiristas devem ter bons textos de apoio e contar com o auxílio do professor.

O cenário pode ser feito através de uma livre interpretação de uma imagem de época (documentos históricos).

Os figurinos também podem ser elaborados depois de uma observação e interpretação de imagens de época.


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Aplicamos essa experiência com alunos do Ensino Fundamental da Escola Municipal Nadir Valente (Cametá/PA). Ao perceber que os alunos não estavam demonstrando autonomia suficiente para elaborar o roteiro, os bolsistas/professores do PIBID interferiram, eles próprios elaborando o roteiro (o que não é o ideal).

Foi montada uma peça teatral intitulada Brasil Império (1808 a 1889). A peça teve quatro atos: 1) Período Joanino (1808-1822); 2) Primeiro Reinando (1822-1831); 3) Período Regencial (1831-1840); 4) Segundo Reinado (1840-1889).

Abaixo, segue o roteiro do primeiro ato da peça. A peça teve, como personagens principais, a família real. Positivista? Muito tradicional? Talvez. Contudo, é preciso lembrar que, durante o ensino fundamental, é preciso construir uma noção temporal e cronológica básica. E essa abordagem centrada na família real ajuda (e muito) nisso. Afinal, um aluno do ensino fundamental não precisa saber, grosso modo, quem foram os membros da família real? A cronologia que estabelecemos através dos quatro atos não é um elemento básico para se compreender o século XIX brasileiro?



ROTEIRO PARA O TEATRO – PERÍODO JOANINO
è     Cena 01: A família real portuguesa se sente pressionada com as ameaças de Napoleão e decide que fugir para o Brasil. ( Personagens: Rainha de Portugal D. Maria I;  D. João VI;  Carlota Joaquina; Algum informante das ameaças de Napoleão ) . Sugestão de cena: Em uma reunião, o informante conta assustado a Dom João VI  sobre as ameaças de Napoleão Bonaparte, nesse momento ele decide que a família real irá fugir de Portugal para o Brasil. A rainha Dona Maria I que sofre com problemas de loucura fica sem entender nada e Carlota Joaquina não gosta muito da idéia.
è     O narrador irá relatar sobre as dificuldades que eles enfrentaram na viagem e que, devido ao mau tempo enfrentado eles primeiro desenbarcaram na Bahia, depois foram para o Rio de Janeiro.
è     Cena 02: A família real desembarca no Rio de Janeiro. Personagens: D. João VI, Carlota Joaquina, Pedro,  alguns serviçais, duas brasileiras e alguns figurantes. Sugestão de cena: D. João VI olha com estranheza ao lugar e já sente os efeitos fortes do calor. Carlota Joaquina, sua esposa, olha com nojo para os adimirados que querem a tocar, ela usa um lenço na cabeça e a duas mulheres brasileiras acham bonito e pensam que é moda, mal sabiam que era porque ela tinha piolhos. Os serviçais carregam as malas da família real. Pedro vem perto dos pais, nesse tempo ele tinha apenas 9 anos de idade.
è     Cena 03: São colocados selos reais da coroa nas portas das casas para que essas fossem desocupadas. Personagens: Funcionários da Coroa Portuguesa, Dois moradores que tiveram que sair de suas casas. Sugestão de cena: Os funcionário chegam de maneira arbitrária colando os selos reais nas portas das casas. Um morador ingênuo fica feliz por ceder sua casa ao Rei de Portugal, já o outro se revolta por ter que sair de sua casa e cedê-la a um rei que mal conhece.
è     Cena 04: Enquanto isso, logo ao chegar no Brasil, D. João VI já é pressionado por um inglês que quer que ele abra os portos brasileiros para o comércio com a Inglaterra e, assim, ele declara a Abertura dos Portos. Personagens: D. João VI, Inglês e alguns serviçais como figurantes. Sugestão de cena: O inglês pressiona D. João VI o lembrando que a Inglaterra custeou sua viagem e agora quer poder comercializar livremente com o Brasil, então D. João VI decide acabar com o Pacto Colonial que obrigava o Brasil a comercializar apenas com a metrópole(Portugal). D. João VI assina o decreto de “Abertura dos Portos às nações amigas”, ou seja, a Inglaterra que se beneficiaria disso.
è     Cena 05: D. João VI cria várias instituições no Brasil. Personagens: D. João VI, alguns fucionários da Coroa, Carlota Joaquina,Pedro e uma serviçal. Sugestão de cena: D. João fz reuniões com funcionário e decide criar instituições que melhorassem a aparência do Brasil, ele desfolha vários papéis enquanto come suas coxinhas e frutas. Enquanto se diz que ele criou a Biblioteca Nacional, Jardim Botânico entre outros, Carlota Joaquina, sem dar atenção a seu filho Pedro que é alimentado pela serviçal, fica preocupada porque não tem onde guardar suas valiosas jóias. Aí então que D. João VI diz que vai criar um “cofrinho” da Coroa Portuguesa para guardar suas riquezas. O nome desse “cofrinho” será: Banco do Brasil.
è     O narrador fala que em meio ao comportamento da Família Real, os brasileiros faziam críticas, com estranheza e um leve tom de graça dos costumes de D. João VI.
è     Cena 06: Dois brasileiros criticam os costumes de D. João VI. Personagens: D. João VI, um serviçal e dois brasileiros. Sugestão de cena: O serviçal depois de muito tentar fez D. João VI tomar um banho, mas ele se recusa a trocar de calça e veste sua calça suja de sempre, ansioso para fazer sua “comilança” de todo dia. Depois disso, os eles saem de cena, e entram em cena os dois brasileiros que comentam zombando e criticando essas manias de D. Jão VI.
è     Cena 07: A rainha D. Maria I já tinha falecido. Os portugueses estavam cansados da ausência de D. João VI em Portugal e decidiram se rebelar para que ele voltasse (Revolução do Porto).  Personagens: Alguns portugueses. Sugestão de cena:  Os portugueses comentam que D. Maria I já estava falecida e o resto da Família Real foi embora para o Brasil, dizem que não aguentam mais que Portugal fique sem um governo em seu país e querem a todo custo que D. João VI retorne para lá.
è     Cena 08: D. João VI recebe mensagens do seu reino está com medo das revoltas portuguesas, mesmo assim, está em dúvida se volta para Portugal ou se fica para formar um reino aqui, ele não queria perder nenhum dos dois reinos, então decide deixar seu filho Pedro para governar o Brasil enquanto ele volta para Portugal.  Personagens: D. João VI, um mensageiro de Portugal(funcionário da Coroa), Pedro e alguns serviçais. Sugestão de cena: O mensageiro traz a notícia da Revolução do Porto que mostrava a revolta do povo português querendo que ele retorne para Portugal, ele está morrendo de medo do que pode acontecer, mas o medo é do que pode acontecer lá e que ele pode perder os reinos, por isso ele fica em dúvida se vai ou não. Aí é que ele tem a idéia de voltar e deixar seu filho Pedro em seu lugar  para governar o Brasil e  garantir o poder aqui. Ele chama Pedro e diz que está partindo e o deixando para governar o Brasil. Pedro ainda é muito jovem, tem apenas 20 anos.
è     Cena 09: A Família Real se despede do Brasil e volta para Portugal. Personagens: D. João VI, Carlota Joaquina, alguns serviçais e alguns figurantes. Sugestão de cena: Antes de ir embora, D. João VI retira todo o dinheiro do seu “cofrinho Banco do Brasil” e parte rumo a Portugal junto de Carlota Joaquina e alguns serviçais da coroa. Carlota Joaquina vai embora feliz smostrando não sentir saudade alguma do Brasil. D. João leva muita comida para a viagem.
è     O narrador diz que ao chegarem em Portugal, se depararam com o clima de tensão e revolta que fizeram D. João VI fazer vários decretos de ordem a Pedro. Eles queriam que o Brasil voltasse a ser colônia de Portugal e que Pedro retornasse a seu país.
è     Cena 10: D. Pedro I não sabe o que fazer agora que é responsável por governar o Brasil, mas tem José Bonitácio(importante conselheiro político) que lhe auxilia e aconselha a rejeitar os decretos do pai e permanecer no Brasil. Pedro mostra nessa cena, que era bastante atraído pelas mulheres brasileiras.  Personagens: Pedro, José Bonifácio e a serviçal. Sugestão de cena: Pedro não demonstra muita importância aos decretos que chegam de Portugal, se distrai facilmente olhando para o corpo da serviçal quando chega uma carta exigindo seu retorno para Portugal. José Bonifácio que estava ali aconselha Pedro a não voltar, pois iria abandonar o Brasil perdendo o reino e o deixando nas mãos de Portugal novamente. Nesse momento, Pedro diz sua célebre frase: “ Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação diga ao povo que fico!”.
è     Cena 11: D. Pedro I declara a Independência do Brasil. Personagens: D. Pedro I, vários figurantes. Sugestão de cena: Pedro celebra a Independência mesmo sentindo fortes dores de barriga causadas por uma disenteria. ­­­­­­­­­­­­­­­­­­


    Fim do primeiro ato !


Slides ajudaram a conferir uma didática melhor à dramatização. 

O coordenador do PIBID-HISTÓRIA- UFPA-CAMETÁ, Ariel, apresentando a peça (agradecendo à CAPES, agência fomentadora)


A família real. 

Frei Caneca sendo fuzilado. 

Os bolsistas do PIBID também atuaram. 
Dividir a peça em quatro atos ajudou os alunos a construírem uma cronologia básica do século XIX brasileiro. 

A professora supervisora Raimunda, da Escola Nadir Valente, agradecendo ao público. 
O envolvimento da comunidade escolar é essencial nesse tipo de atividade. A atividade aconteceu no auditório da UFPA/Cametá. É preciso romper com a barreira existente entre escola e universidade. As licenciaturas, no Brasil, estão muito afastas da escola. 





Abaixo, segue outro roteiro, também elaborado pelos bolsistas do PIBID, usado para montar uma pequena dramatização que contextualizou a capitânia de Minas Gerais no século XVIII. A experiência foi aplicada com uma turma de sétimo ano. 


ROTEIRO – MINAS GERAIS NO SÉCULO XVIII

Somos os alunos da 7º série A e hoje vamos apresentar uma peça teatral que vem contar um pouco de nossa história, onde iremos falar sobre o Brasil colônia. E dentro desse assunto destacaremos a descoberta do ouro no Brasil que ocorreu em fins do século XVII.
     Quando os primeiros portugueses chegaram na América Portuguesa, onde hoje fica o Brasil, eles imediatamente procuraram ouro e outros metais preciosos mais não encontraram em abundância. Mas dois séculos depois com a crise da produção do açúcar a coroa portuguesa precisava de novas fontes de renda, foi nesse contexto que os bandeirantes no final do século XVII começaram a encontrar minas de ouro onde hoje estão localizados os estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.

Cena 01: descoberta do ouro e guerra dos emboabas
Bandeirante 01: Onde essa selvagem se meteu?
Bandeirante 02: Espera!! Acho que ela foi por ali, vamos depressa!!
Índia: vou me esconder o máximo que eu puder, não quero mais ser escrava!! Eu nasci para ser livre (se esconde em um matinho).
 Bandeirante 01: precisamos encontra-la, vamos ganhar muito dinheiro com ela.
Bandeirante 02: Espera... olha isso!!!
Bandeirante 01: O que foi, Encontrou a selvagem?
Bandeirante 02: Não!!! E algo bem melhor... (ficam se joelhos na beira do riacho)
Bandeirantes 01 e 02: E ouro!!! estamos ricos.... (Comemoram)
NARRADORA: A descoberta do ouro no Brasil provocou uma verdadeira corrida do ouro durante todo século XVIII que foi o auge do ouro. Brasileiros de todas as partes e até portugueses vieram atrás do desejado ouro. No entanto os paulistas que se consideravam donos das minas por ter as descobrido, ficaram cada vez mais irritados com os forasteiros que estavam invadindo suas minas e passaram a apelida-los de emboabas pelo fato de eles usarem botas, o que não acontecia entre os paulistas que iam as minas descalços. E essas rivalidades entre paulistas e emboabas se agravou em 1807 no conflito que ficou conhecido como guerra dos emboabas.
Cena 02: Guerra dos emboabas
Paulista 01: saiam daqui!! Esse lugar nos pertence. Fomos nós que descobrimos.
Emboaba 01: nós viemos de tão longe atrás desse ouro e não vamos sair daqui por que vocês se acham os donos da minas!
Emboabas 02:  Essas Minas pertence a todos nós.
Paulista 02: Saiam daqui, o ouro é todo nosso!!
Emboaba 03: Não sairemos!! Lutaremos até a morte!
®    Confronto e derrota dos paulistas.
NARRADORA: no final do conflito os emboabas dominaram a região e expulsaram os paulistas das regiões mineradoras. Porém a coroa portuguesa para aumentar seu controle sobre a região mineradora interveio no conflito e estabeleceu igualdade de direitos entre os dois grupos para que passassem a explorar outras regiões mineradoras.

Cena 03: escravidão nas minas
Narradora: a extração do ouro nas minas era feita em sua maioria por escravos negros trazidos do continente Africano. Eles trabalhavam nas minas nas piores condições possíveis, sendo assim muitos escravos não suportavam mais de 5 anos de trabalho nas minas.

Fiscal do ouro: (dando chicotadas) Vamos seus preguiçoso, faça seu trabalho direito, precisamos de mais ouro!!
Escravo 01: eu não mereço essa vida!! Estamos em meio de tantas riquezas é somos tão miseráveis
Escravo 02: eu sei de um jeito de mudamos de vida, poderemos ter nosso próprio ouro e assim compraremos nossa liberdade.
Escravo 01: Mas como poderemos fazer isso, eles ficam o tempo todo nos vigiando?
Escravo 02: você está vendo esse santinho? Por dentro ele está oco, vamos colocar ouro aqui dentro sem que eles vejam.
Escravo 01: Entendi, assim eles nunca irão desconfiar de um santo do pau oco. (Risos)

NARRADORA: com a grande extração do ouro as jazidas começaram a se esgotar. Mas a coroa portuguesa não levou isso em consideração, pois acreditava que todo o ouro estava sendo contrabandeado. E passa a intensificar cada vez mais a cobrança de impostos. E por essa razão começaram a ocorrer diversas revoltas, como a revolta de Vila rica e a Inconfidência Mineira que teve como principal causa a insatisfação da elite de minas gerais com as altas taxas de impostos cobrados sobre a extração do ouro.

  Cena 4: Inconfidência Mineira
Inconfidente 01: como vamos pagar tantos impostos!! O ouro já está escasso.
Inconfidente 02: o pior e que a coroa portuguesa não está vendo isso, e continua cobrando impostos como o quinto e a derrama.
José Alvarenga:  Daqui a pouco eles entraram em nossas casas e tiraram tudo que temos.
Thomas Antônio Gonzaga: Não podemos permitir isso, eles não podem nos oprimir desse jeito!! Agora precisamos fazer valer a pena as ideias iluministas.
Tiradentes: Não queremos mais esse governo que nos oprime vamos romper com Portugal.
Claudio Manoel da Costa: Também criaremos uma universidade em Vila Rica para que nossos filhos não precisem mais estudar na Europa.
Joaquim Silvério dos Reis: Queremos o perdão de todas as dividas
Padre Rolim: mas quando faremos isso?
Tiradentes: No dia da execução da derrama, pois a população estará revoltada e ira nos apoiar
NARRADORA: O dia da revolta estava marcado, porem Joaquim Silvério um dos inconfidentes delatou o movimento ás autoridades portuguesas em troca do perdão de suas dívidas.
Cena 5: Joaquim Silvério delatando o movimento

Joaquim Silvério:  meu senhor tenho uma notícia muito importante a lhe dizer, porém só falarei se me der sua palavra que minhas dividas com a coroa serão pagas.
Governador: Se a notícia valer a pena, suas dívidas serão quitadas, lhe dou minha palavra.
Joaquim Silvério: soube que Joaquim da silva Xavier, Tomas Antônio Gonzaga entre outros conspiram contra a coroa e desejam fazer uma revolta para impedir a execução da derrama e romper com Portugal.
Governador: Jamais permitirei isso!!! Soldados prendam todos!!

Cena 6: os inconfidentes são presos pelos soldados da coroa em uma de suas reuniões
Tiradentes: tudo já está preparado?
Padre Rolim: sim!! Em breve nos livraremos dos malditos Portuguesas.
Tomas Antônio: Acho que alguém está batendo na porta.
Claudio Manuel da Costa: eu vou lá ver.
Soldados: Vocês estão presos por conspirarem contra o rei
Tiradentes: estamos lutando por nossos direitos, e se for esse o preço a pagar, pagaremos!!
Cena 7: Julgamento dos inconfidentes
Juiz: senhor Joaquim da Silva Xavier por conspirar contra o rei de Portugal você e ser o líder do movimento Você está condenado à morte por enforcamento, os demais terão a pena que lhes cabe, serão presos outros exilados para África.
Inconfidentes: isso e um absurdo estávamos lutando apenas por nossos direitos.
Juiz: Soldados tire-os daqui
Cena 8: Morte de Tiradentes

Executor: qual suas últimas palavras?
Tiradentes: desejo que um dia todos nós possamos nos libertar das amarras Portuguesas que tanto nos oprime e passamos se um pais Independente. (Nesse momento ele e enforcado)





 A equipe, de alunos do 7º ano da Escola Nadir Valente, que montou a encenação contextualizando Minas Gerais no século XVIII. 







4 comentários:

  1. Olá, achei muito interessante a forma de trabalhar a história. Vc teria como disponibilizar o roteiro completo da peça sobre o Brasil Império?

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  2. Muito bom o trabalho com o teatro. Parabéns!

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  3. também gostaria do roteiro sobre o Brasil Império. Sua ideia é excelente.

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