quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE E AUTONOMIA (OU UMA PROPOSTA CONCRETA PARA FUGIR DA EDUCAÇÃO BANCÁRIA, CRITICADA NAS UNIVERSIDADES MAS PRATICADA NAS ESCOLAS)

Na década de 1980, uma equipe de psicólogos norte-americanos desenvolveu o conceito de inteligências múltiplas. Segundo esse aparato conceitual, cada indivíduo detém habilidades específicas, não sendo uma pessoa, necessariamente, mais inteligente que outra. Uma criança pode apresentar habilidades musicais, outra pode demonstrar facilidade no raciocínio matemático e uma terceira pode ter aptidão para localizar situações históricas no tempo e no espaço. Flertando com a ideia de que o ser humano possui múltiplas inteligências, desenvolveu-se, em Israel, nessa mesma época, uma concepção pedagógica denominada "Horaá Mutemet", que, em tradução livre, significa Ensino Para a Diversidade.
            O ensino para a diversidade pretende desenvolver um indivíduo autônomo, respeitando a modalidade de aprendizagem de cada sujeito. Segundo a concepção do Ensino Para a Diversidade, o saber é formado por requisitos diferentes, sendo que o professor deverá entender e aceitar com naturalidade que cada aluno fará distintos progressos e avanços, a partir de seu próprio ritmo pessoal.
            Defendemos, portanto, o conceito de inteligências múltiplas e a concepção pedagógica do Ensino Para a Diversidade ("Horaá Mutemet") no ensino de história. Ainda é predominante a prática escolar de realizar aulas expositivas e aplicar exercícios homogêneos para todos os alunos. Esse blog tem como norte incentivar educadores na aplicação de atividades diversificadas, múltiplas. Dentro de um leque de atividades, o aluno poderá escolher aquela que mais lhe interessa. Assim, o professor será capaz de atingir os diversos tipos de inteligência.
          Uma atividade baseada nessa concepção pedagógica tem uma estrutura básica. Depois de trabalhado o conteúdo básico em sala de aula, é realizada essa atividade para aprofundar esse conteúdo programático. A atividade é dividida em três etapas: 1)cardápio de atividades, 2)elaboração e 3)culminância/socialização .


1) Cardápio de atividades
           O cardápio de atividades é a instrução escrita distribuída aos alunos.  Essa instrução também pode ser realizada oralmente pelo professor. É preferível que o cardápio de atividades seja escrito, pois isso ajuda a desenvolver no aluno a capacidade de leitura e estimula sua autonomia. O cardápio propõe uma gama variada de atividades. Ela deve ser capaz de atingir os alunos de tipo mais diversificado. Por exemplo, para o aluno extrovertido, é proposta a organização de um teatro, isto é, de uma pequena encenação. Já o aluno mais introvertido e com habilidades artísticas poderá confeccionar uma história em quadrinhos. O aluno que gosta de escrever, por sua vez, poderá elaborar uma redação sobre o conteúdo trabalhado. Para o aluno com aptidões musicais, será sugerido que ele componha uma paródia musical que sintetize o conteúdo trabalhado.
2) Elaboração
             Cada aluno deverá escolher uma atividade dentre as várias que lhe foram oferecidas. Se a atividade for em grupo, como, por exemplo, a elaboração de uma encenação, ele deve se juntar a alguns colegas. A atividade pode ser individual ou em dupla, como, por exemplo, e elaboração de uma redação. O cardápio deve especificar qual é número de alunos que pode realizar cada uma das atividades. Durante a elaboração das atividades, cada grupo trabalhará em um canto da sala, ou até mesmo, se for possível, fora da sala. Dentro da sala, por exemplo, estarão os alunos que optaram por escrever uma redação. No pátio da escola, estará o grupo que optou por elaborar uma pequena encenação. Durante esse processo, o professor deverá circular, auxiliando os alunos e interferindo, se for necessário.
            Esse é um pressuposto importante da Educação Para a Diversidade: o professor deve sair do centro. O professor passa a ser um orientador. O aluno por sua vez, não é mais o depositário do conhecimento, isto é, não é mais um agente passivo esperando para receber conhecimento. A criança é produtora de saber. Nesse sentido, A Educação Para a Diversidade flerta com algumas ideias de Paulo Freire. Segundo o pensador Pernambucano, o aluno que apenas recebe passivamente o conhecimento é oprimido. Para Freire, a aluno é oprimido quando o professor se coloca na condição de dono do conhecimento e ele na de receptáculo inerte. Para Freire, esse modelo constitui uma educação opressora que inibe a capacidade criadora do indivíduo.
            Um aspecto de ordem prática importante é o tempo de realização da atividade. Um grupo pode terminar antes que o outro. E então, o que fazer? Deixar os alunos livres? Sabe-se que é muito complicado deixar crianças sem atividades enquanto outras ainda estão trabalhando. O professor deve, portanto, ter outras atividades para aqueles que terminarem antes. 
3) Culminância/socialização
            Esse é o momento em que os alunos apresentam aos colegas aquilo que foi produzido. A encenação é apresentada. A redação é lida em público. A paródia musical é cantada para todos. A história em quadrinhos é distribuída.

            É muito importante valorizar a produção do aluno. É preciso, depois de encerrada a socialização, criar um ambiente educativo. Se um grupo de alunos produziu um mapa, é preciso expô-lo de forma esteticamente agradável. O ambiente deve estimular as crianças a observarem o produto elaborado por seus colegas. Se duas crianças produziram uma história em quadrinhos, é preciso deixar ela disponível para que todos possam manuseá-la. O professor deve perder tempo organizando um canto, um mural, com a produção das crianças. Inserir um título no mural e agregar livros paradidáticos em cima de uma mesa para as crianças folhearem sozinhas são algumas sugestões. É preciso, enfim, estimular a autonomia do educando, para que ele possa, sozinho, folhear livros, observar cartazes, analisar gráficos e perceber que o conhecimento não é apenas adquirido quando o professor fala. 

Para saber mais
BALLESTERO-ALVAREZ, María Esmeralda. Exercitando as inteligências múltiplas. Dinâmicas de grupo fáceis e rápidas para o ensino superior. Campinas: Papirus, 2005 [disponível on-line, no google books, com visualização parcial].
CALBERG, Simone (org.). O processo educativo: Articulações possíveis frente à diversidade. Curitiba : Pulso Editorial,  2006.
CHALUH, Laura Noemi. “Autonomia, democracia e diversidade: práticas pedagógicas que favorecem esses valores”. Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1): 97-112, 2006 [disponível on-line em http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=68490107].
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2011.



Nenhum comentário:

Postar um comentário