Na década de 1980, uma equipe de
psicólogos norte-americanos desenvolveu o conceito de inteligências múltiplas.
Segundo esse aparato conceitual, cada indivíduo detém habilidades específicas,
não sendo uma pessoa, necessariamente, mais inteligente que outra. Uma criança
pode apresentar habilidades musicais, outra pode demonstrar facilidade no
raciocínio matemático e uma terceira pode ter aptidão para localizar situações
históricas no tempo e no espaço. Flertando com a ideia de que o ser humano
possui múltiplas inteligências, desenvolveu-se, em Israel, nessa mesma época, uma
concepção pedagógica denominada "Horaá Mutemet", que, em tradução
livre, significa Ensino Para a Diversidade.
O
ensino para a diversidade pretende desenvolver um indivíduo autônomo, respeitando
a modalidade de aprendizagem de cada sujeito. Segundo a concepção do Ensino Para a Diversidade, o saber é
formado por requisitos diferentes, sendo que o professor deverá entender e
aceitar com naturalidade que cada aluno fará distintos progressos e avanços, a
partir de seu próprio ritmo pessoal.
Defendemos, portanto, o conceito de inteligências múltiplas e a
concepção pedagógica do Ensino Para a Diversidade
("Horaá Mutemet") no ensino de história. Ainda é predominante a
prática escolar de realizar aulas expositivas e aplicar exercícios homogêneos
para todos os alunos. Esse blog tem como norte incentivar educadores na
aplicação de atividades diversificadas, múltiplas. Dentro de um leque de
atividades, o aluno poderá escolher aquela que mais lhe interessa. Assim, o
professor será capaz de atingir os diversos tipos de inteligência.
Uma
atividade baseada nessa concepção pedagógica tem uma estrutura básica. Depois
de trabalhado o conteúdo básico em sala de aula, é realizada essa atividade
para aprofundar esse conteúdo programático. A atividade é dividida em três
etapas: 1)cardápio de atividades, 2)elaboração e 3)culminância/socialização .
1)
Cardápio de atividades
O cardápio de atividades é a instrução escrita distribuída aos alunos. Essa instrução também pode
ser realizada oralmente pelo professor. É preferível que o cardápio de atividades seja
escrito, pois isso ajuda a desenvolver no aluno a capacidade de leitura e
estimula sua autonomia. O cardápio propõe uma gama variada de atividades. Ela
deve ser capaz de atingir os alunos de tipo mais diversificado. Por exemplo,
para o aluno extrovertido, é proposta a organização de um teatro, isto é, de
uma pequena encenação. Já o aluno mais introvertido e com habilidades
artísticas poderá confeccionar uma história em quadrinhos. O aluno que gosta de
escrever, por sua vez, poderá elaborar uma redação sobre o conteúdo trabalhado.
Para o aluno com aptidões musicais, será sugerido que ele componha uma paródia
musical que sintetize o conteúdo trabalhado.
2)
Elaboração
Cada aluno deverá escolher uma atividade
dentre as várias que lhe foram oferecidas. Se a atividade for em grupo, como,
por exemplo, a elaboração de uma encenação, ele deve se juntar a alguns
colegas. A atividade pode ser individual ou em dupla, como, por exemplo, e
elaboração de uma redação. O cardápio deve especificar qual é número de alunos
que pode realizar cada uma das atividades. Durante a elaboração das atividades,
cada grupo trabalhará em um canto da sala, ou até mesmo, se for possível, fora
da sala. Dentro da sala, por exemplo, estarão os alunos que optaram por
escrever uma redação. No pátio da escola, estará o grupo que optou por elaborar
uma pequena encenação. Durante esse processo, o professor deverá circular,
auxiliando os alunos e interferindo, se for necessário.
Esse
é um pressuposto importante da Educação
Para a Diversidade: o professor deve sair do centro. O professor passa a
ser um orientador. O aluno por sua vez, não é mais o depositário do
conhecimento, isto é, não é mais um agente passivo esperando para receber
conhecimento. A criança é produtora de saber. Nesse sentido, A Educação Para a Diversidade flerta com
algumas ideias de Paulo Freire. Segundo o pensador Pernambucano, o aluno que
apenas recebe passivamente o conhecimento é oprimido. Para Freire, a aluno é
oprimido quando o professor se coloca na condição de dono do conhecimento e ele
na de receptáculo inerte. Para Freire, esse modelo constitui uma educação
opressora que inibe a capacidade criadora do indivíduo.
Um
aspecto de ordem prática importante é o tempo de realização da atividade. Um
grupo pode terminar antes que o outro. E então, o que fazer? Deixar os alunos
livres? Sabe-se que é muito complicado deixar crianças sem atividades enquanto
outras ainda estão trabalhando. O professor deve, portanto, ter outras
atividades para aqueles que terminarem antes.
3) Culminância/socialização
Esse
é o momento em que os alunos apresentam aos colegas aquilo que foi produzido. A
encenação é apresentada. A redação é lida em público. A paródia musical é
cantada para todos. A história em quadrinhos é distribuída.
É
muito importante valorizar a produção do aluno. É preciso, depois de encerrada
a socialização, criar um ambiente educativo. Se um grupo de alunos produziu um
mapa, é preciso expô-lo de forma esteticamente agradável. O ambiente deve
estimular as crianças a observarem o produto elaborado por seus colegas. Se
duas crianças produziram uma história em quadrinhos, é preciso deixar ela
disponível para que todos possam manuseá-la. O professor deve perder tempo
organizando um canto, um mural, com a produção das crianças. Inserir um título
no mural e agregar livros paradidáticos em cima de uma mesa para as crianças
folhearem sozinhas são algumas sugestões. É preciso, enfim, estimular a autonomia
do educando, para que ele possa, sozinho, folhear livros, observar cartazes,
analisar gráficos e perceber que o conhecimento não é apenas adquirido quando o
professor fala.
Para
saber mais
BALLESTERO-ALVAREZ, María Esmeralda. Exercitando as inteligências múltiplas.
Dinâmicas de grupo fáceis e rápidas para o ensino superior. Campinas: Papirus,
2005 [disponível on-line, no google books, com visualização parcial].
CALBERG, Simone (org.). O processo educativo: Articulações
possíveis frente à diversidade. Curitiba : Pulso
Editorial, 2006.
CHALUH, Laura Noemi. “Autonomia,
democracia e diversidade: práticas pedagógicas que favorecem esses valores”. Olhar de professor, Ponta Grossa, 9(1):
97-112, 2006 [disponível on-line em http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=68490107].
FREIRE, Paulo. Pedagogia
do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
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