Abaixo, segue o vídeo da peça produzida por alunos do nono ano da Escola Municipal Nadir Valente. Um foco importante da atividade foi aproximar o golpe de 1964 ao contexto regional, isto é, a realidade da Amazônia Tocantina.
Confira, abaixo, o roteiro produzido pelos alunos e que serviu de base para a teatralização.
O Golpe Civil Militar de 1964 no Brasil
Narradora:
bom dia senhoras e senhores, somos a 8ª série “a” da Nadir Valente e vamos
apresentar agora um teatro que desenvolvemos junto ao projeto PIBID-História da
UFPA, sobre o “Golpe Civil Militar de 1964”, conteúdo estudado em sala e que
foi utilizado como tema para o teatro que vocês verão a seguir.
No
teatro falaremos sobre o processo histórico e político brasileiro que aconteceu
a pouco mais de 50 anos atrás, possivelmente, nossos pais e avós tenham vivenciado,
a ditadura militar no Brasil em suas mazelas sociais, projetos de progresso e
uso da repressão para os militares se manterem no poder.
É
interessante sabermos nossa história, e é mais interessante ainda quando ela se
materializa diante de nossos olhos de forma cômica ou trágica dando sentido a
história que muitas vezes vemos como pronta e acabada, assim podemos criar
novas possibilidades para refletir sobre a nossa história.
É
o que tentamos fazer neste teatro, e esperamos contar com a atenção e participação
de vocês, desde já, agradecemos a presença de todos.
1º.
Ato: O GOLPE-Interação com o público
Cena 1:
(Vídeos
e imagens da época da ditadura são passadas no telão, de repente o áudio e
vídeo param, quando uma aluna do meio da plateia inicia sua fala).
Aluna: Quantos de nós temos lembranças
daquela época que o Brasil estava sob o poder dos militares? Será que eles
ficaram por muito tempo no governo apenas pela sua força de repressão, ou eles
tiveram apoio das classes populares? Mas como isso foi possível?
Eu
pergunto a vocês, o período do governo militar foi bom? Foi ruim? Porquê hoje e
dia muitos pedem para que a ditadura volte? (As luzes se apagam)
Narradora:
Depois de ter vivenciado o período da ditadura militar (1964-1985) em seu
governo autoritário, sofrido com as torturas físicas e repressões, duas colegas
e suas famílias que viviam em São Paulo decidem mudar-se para Belém do Pará em
1980 para fugirem das repressões que aconteciam com mais evidência na capital
paulista. Elas presenciaram os momentos de lutas e resistências do regime
militar, e atualmente desfrutam da boa democracia do Brasil.
Depois
de muito tempo sem se ver, elas se reencontram em uma lanchonete de Belém no
ano 2000.
Colega
1: – Oi querida, quanto tempo que não nos víamos, como você está?
(Garçonete
servindo a mesa)
Colega
2: – Eu vou bem desde a última vez que nos encontramos, quanta coisa mudou,
não? Só de pensar tudo o que passamos nos tempos da ditadura... me dá um
arrepio na espinha, ainda bem que hoje vivemos em uma república democrática.
Podemos nos expressar livremente, sem ter ninguém nos vigiando e censurando.
(Uma
senhora que passa ao lado da mesa e ouve a conversa fala)
Senhora:
vocês só podem estar loucas (tom de sarcasmo), eu nunca vi um Brasil tão bom de
se viver com nos tempo em que os militares governavam, não tinha baderna, não
se via pouca vergonha nas ruas, e a economia do Brasil ...rum! nem se fala... é
por isso que eu tenho saudades daqueles tempos e até gosto quando vejo estes
garotos de hoje pedindo para voltar a ditadura. (slide com #voltaDitadura)
Narradora:
neste momento, elas deparam-se com uma sena lamentável acontecendo do outro
lado da rua.
Vendedora:
mas senhores, eu não estou fazendo nada de errado! Estou apenas trabalhando
honestamente para poder manter a mim e aos meus filhos.
Policial
1: isto não nos interessa! Você deveria saber que para trabalhar aqui no mínimo
tem que apresentar o alvará de funcionamento.
Policial
2: pegue seus esses trapos que você vende e saia daqui, ou teremos que lhe
prender por desacato à autoridade!
Vendedora:
mas isso é injusto! (Chorando, a senhora começa a arrumar seus itens para se
retirar)
Colega
1: (dirigindo-se para a senhora) Veja senhora, hoje em plena democracia os
militares agem assim, agora pense no que eles não estavam fazendo naquele
período?
Colega
2: eu sei que eles estão cumprindo as leis, mas deveriam oferecer um prazo para
que a vendedora pudesse se organizar, e não trata-la daquela maneira bruta.
Colega
1: é desse tempo que você tem saudades?
Senhora:
é verdade foi um tempo difícil mesmo, mas não devemos pensar só nisso. Pois se
hoje a gente tem energia elétrica é por causa dos projetos em que os presidentes
Castelo Branco, Médice e Geisel deram apoio à construção da Hidrelétrica de
Tucuruí.
Eu
bem lembro do tempo em que meu falecido marido contava de suas experiências de
trabalho depois que o governo militar decidiu apoiar a construção da
Hidrelétrica de Tucuruí, vocês não veem o quanto progresso eles trouxeram?
Empregos, eletricidade... hum, só eles para botar o Brasil nos eixos novamente.
2º
ATO: HIDRELÉTRICA DE TUCURUÍ- Choques de interesses entre empresa e povos
indígenas
(Lembranças
da senhora)
(Slide e Áudio com o discurso do presidente ao
progresso do Brasil)
Narradora: no ano de 1975 durante o governo de Ernesto
Geisel deu-se início ao processo de construção da Hidrelétrica de Tucuruí, pela
ideia de segurança nacional em contemplar as áreas chamadas de “desabitadas”,
como no caso da Amazônia, e também trazer o progresso para a sociedade
brasileira gerando empregos para a região.
Houveram
muitas imigrações para a região norte a procura de emprego na construção da
Hidrelétrica, muitas famílias foram contempladas, mas as pessoas não imaginavam
os problemas que a construção da Hidrelétrica traria. Os mais impactantes foram
a devastação ambiental, e o prejuízo trazido às comunidades indígenas que
habitavam as regiões próximas à hidrelétrica, sem dizer as doenças ocasionadas.
(As
cortinas se abrem)
Cena 2: a
construção da Hidrelétrica
Dono
da empresa: senhores, nosso compromisso é trazer energia elétrica para a
população brasileira, mas para isso precisamos derrubar os obstáculos.
Trabalhador
1: mas chefe, o que você chama de obstáculos?
Dono
da empresa: tudo! Desde a natureza até os índios (risos) eles que procurem
outro canto de mato para viverem, por que não vamos deixar o Brasil no atraso
por causa deles. Vamos botar esta floresta no chão!
Trabalhador
2: é! Eles que procurem outro canto de mato para viverem, pois nós precisamos trabalhar,
e alimentar nossas mulheres e filhos!
(As
cortinas se fecham)
Cena 3:
Narradora:
a noite, ao chegar em casa, depois cinco meses de trabalho, um dos
trabalhadores conta a sua família suas experiências na construção da
Hidrelétrica de Tucuruí.
(Todos
à mesa jantando)
Pai:
ah... Minhas queridas, eu espero que os militares continuem no governo do
Brasil, pois se for assim, vamos nos tornar um país de primeiro mundo.
Pai:
vocês acreditam que um bando de índios queriam interromper o nosso trabalho?
Mas não deixamos, eles tiveram que sair de lá, ou teriam que ocupar um
lugarzinho no céu (risos).
Filha:
mas papai, é certo tirar os índios de suas casas? Pra onde eles vão? E por que
estão fazendo isso com eles?
Mãe:
minha filha, você não entende! Eles podem achar outro lugar de mato pra
viverem, mas nós precisamos disso, se não fosse assim nós não estaríamos aqui,
com casa e comida. E lembre-se, seu pai precisa trabalhar.
(Fecham-se
as cortinas)
Narradora:
alguns anos após ter iniciado a construção da Hidrelétrica, houve um surto de
malária em consequência ao desmatamento e exploração das terras amazônicas sem
planejamento e suporte, muitos foram contaminados pela doença e acabaram por
falecer.
(Pai
de família muito doente em leito de morte)
Pai:
(deitado) acho que meu papel de pai foi cumprido, pude ter uma vida digna e
honesta de trabalho, trabalhei muito, e agradeço a Deus por tudo que os militares
estão fazendo por nós, posso morrer em paz.
Mãe:
não diga isso, ainda temos muito o que viver deste país maravilhoso.
Pai:
é verdade, mas eu já não tenho forças para trabalhar, nem para viver e para mim
foi uma honra ter contribuído para este progresso. (Dizer estas últimas
palavras devagarinho e fechando os olhos)
Filha:
papai? Papai??? Não!
(Mãe
e filha choram a triste perda)
Mãe:
ele fez o possível por nós minha filha, foi um grande homem.
Filha:
mas eu não aceito isso, mãe! Essa doença maldita não podia ter levado meu
pai...
Cena 4: de
volta à lanchonete
Colega
1: senhora, você tem consciência das consequências que o dito progresso
implantado pelos militares trouxeram?
Colega
2: você percebe que os indígenas, assim como você também tinham necessidades de
viver e se alimentar dignamente? E que suas vidas foram modificadas sem ninguém
pedir a eles sua opinião? Em nome do progresso.
Colega
1: nós sabemos que hoje precisamos de energia elétrica para vivermos bem, mas
devemos saber que isto que hoje temos, custou caro a algumas pessoas.
Senhora:
inclusive meu marido (fala com tristeza), pois foi por causa da malária que ele
faleceu. Agora fiquei imaginando o quanto os as famílias indígenas devem ter
sofrido com tudo isso.
Senhora:
a ditadura militar trouxe avanços, mas também desgraças.
Colega
1: e tudo isso podia ter sido diferente se não fosse a ambição por controlar o
Brasil por parte dos militares.
Colega
2: verdade, pois nesses conflitos, muitas vidas inocentes foram tiradas, e
muitos pagaram pelos atos de outros.
Reflexão:
Aluna:
cabe a nós percebermos e refletirmos sobre o período do Regime militar, sabemos
muito sobre as repressões, exílios e mortes, mas não paramos para imaginar como
as pessoas estavam envolvidas neste processo, qual o papel dos povos indígenas,
das famílias, enfim, dos avanços, progressos, devastações e consequências.
Será
que hoje em dia a ditadura seria proveitosa?
Abriríamos
mão da democracia para sermos submetidos a repressões em nome do progresso?
São
fatores que não dizem respeito a nós mesmos, mas à sociedade brasileira. Como
nos comportaríamos diante de circunstâncias que passam por cima dos nossos
direitos de cidadãos?
Saberíamos
viver?
Saberíamos
nos expressar?
Saberíamos
entender?
(para
finalizar, slides com música e vídeo sobre a ditadura)
Narradora:
bom gente, este foi o teatro apresentado pela 8ª série “A”, sobre o perído da
ditadura militar no Brasil, onde buscamos mostrar alguns dos motivos pelo qual
os militares permaneceram no poder. E entender isto de acordo com a realidade
histórica paraense. O teatro foi elencado por:
Daniele
Rodrigues
Giovanna
Victória Rodrigues
Tayse
Pinto
Mayara
Silva
Irla
Cardoso
Camila
Silva
Jéssica
de Jesus
Emanuelly
Vidal
Esperamos
que vocês tenham gostado. Uma salva de palmas. (Fecham-se as cortinas)
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